Aquela definitivamente não era uma manhã comum como todas as outras manhãs de fevereiro dos anos anteriores, Lucas estava em casa, jogando bola com seu irmão mais novo Matheus no gramado do condomínio onde moravam. Os dois eram ligeiramente mais altos que os garotos de suas respectivas idades, Lucas tinha 16 e Matheus 14, ambos tinham os olhos azuis e cabelos loiros e enrolados, mas Matheus não gostaram de deixa-los crescer muito, pois achava que ficaria igual seu irmão, a não ser pela altura e pelo fato de Lucas ter o nariz um tanto avantajado. Os dois eram meninos muito educados e prestativos, além de serem incrivelmente pacientes, mas especialmente hoje não estavam muito concentrados no jogo, eles esperavam uma carta, uma carta do Ministério da Magia que talvez fosse a carta mais importante pra eles naquele momento. O garoto Martins, que morava num apartamento dois andares abaixo dos meninos, recebera sua carta uma semana antes e isso só fazia os irmãos Pinheiro se sentirem cada vez mais aflitos. Sentiam que seriam rejeitados para o novo programa de treinamento de jovens bruxos e bruxas de todo o mundo.
Os meninos esperaram o que parecia ter sido o dia todo, mas na realidade só se passaram algumas horas, e ainda assim nada daquela bendita carta chegar. Eles já tinham parado de jogar bola há alguns minutos, e agora estavam os dois deitados no verde e alto gramado que lhes causava coceira. Olhavam para o céu na esperança de avistarem pelo menos uma coruja, apenas uma, aquela que trouxesse em seu bico a tão esperada carta que mudaria suas vidas.
O escaldante sol no alto do azul e límpido céu anunciava a chegada da tarde e os meninos, sem esperança de receberem suas cartas, haviam subido os intermináveis lances de escada que levavam ao apartamento de número 512 do quinto andar do bloco B e estavam os dois almoçando com seu pai na pequena e apertada cozinha do apartamento. Entre uma garfada e outra, onde se ouviam apenas o bater dos talheres, os três escutaram um barulho familiar de asas que entrara pela janela de um dos quartos.
Uma pequena coruja marrom entrara pela janela do quarto de Lucas e pousara na cabeceira da cama do garoto. A corujinha observava atentamente os detalhes do quarto decorado com tema espacial quando os garotos irromperam porta adentro ainda em tempo de ver a pequena coruja, envolvida por um redemoinho de fumaça se transformando num jovem rapaz de terno marrom. Aparentando ter uns 19 anos, o rapaz tinha cabelos escuros como a noite e penteava-os para cima como se tivesse levado um choque; seus grandes olhos eram de um tom barrento como toda a sua roupa, com exceção de suas meias que eram escandalosamente verde quadriculadas. O rapaz avistou uma grande e pesada escrivaninha ao pé da cama, e apesar da enorme bagunça em cima dela, ele jogou sua pesada maleta de couro preto e de lá tirou dois pequenos envelopes de papel bege e entregou-os aos garotos.
Escrita por F. L. Cardozo

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